O estado mais ao sul nos Estados Unidos não é exatamente considerado como parte do sul. A Flórida é um estado à parte, com suas peculiaridades geográficas, econômicas, demográficas e políticas. Também será o maior prêmio da noite de hoje, com 99 delegados nas primárias republicanas e 214 na disputa democrata.
A Flórida e a eleição de 2000
Não há estado mais particular do que a Flórida. É conhecido turisticamente pelos resorts, pelas praias e pela Disneyland. Seu clima quente e mais tropical faz com que seja um dos destinos preferidos de aposentados (boa parte da população é mais velha e não nasceu no estado). Os pântanos mais ao norte apresentam um ecossistema muito diferente das praias de Miami. A proximidade com Cuba (150 km) faz da Flórida o estado com a maior população de descendentes cubanos, seja de refugiados ou não. É o caso de Marco Rubio, por exemplo.
Politicamente, o estado tem um eleitorado bastante dividido. Isso faz com que eleições sejam sempre disputadas fortemente, ainda mais porque a Flórida é o maior dos “swing states”: com a quarta maior população dos EUA, somente Califórnia (55), Texas (38) e Nova York (29) possuem mais ou a mesma quantidade de votos no Colégio Eleitoral, mas os três estados são garantidos hoje pelos democratas (CA e NY) ou republicanos (TX). Sem ganhar a Flórida, é muito difícil vencer a eleição.
Isso ficou óbvio de forma altamente polêmica em 2000. A disputa entre Al Gore e George W. Bush foi finalizada em todo o país, enquanto a Flórida passava por uma recontagem que definiria a eleição. O caso todo incentivou muito a polarização do país: partidários de Bush apontam para as decisões judiciais que garantiram a vitória republicana; partidários de Al Gore mostram que seu candidato teve maioria no voto popular e que as recontagens auxiliaram Bush. Nas últimas quatro eleições, a distância entre republicanos e democratas ficou abaixo de 5 pontos percentuais.
As chances de cada candidato
A Flórida não distribui delegados proporcionalmente entre os republicanos, nem divide por distritos congressuais. Os 99 delegados vão todos para o vencedor, e o favoritismo disparado é de Donald Trump, devido aos números das pesquisas. Embora algumas indiquem maior proximidade entre Trump e Marco Rubio, especialmente entre os que votaram antecipadamente, a situação do senador está muito difícil.
Apenas Rubio tem chance de vencer Trump no estado. Mas o senador da Flórida não parece ter sido capaz de convencer a maior parte dos eleitores de seus adversários a apoiá-lo contra Trump. Embora haja motivos para acreditar que Rubio não ficará tão distante de Trump no número de votos (média das pesquisas hoje indica 17 pontos de diferença), a equipe de Rubio espera por um milagre. Se não vier, sua campanha deve terminar ainda hoje.
Do lado democrata, a situação parece similar. Clinton tem uma vantagem absurdamente grande contra Sanders nas pesquisas. É difícil visualizar um erro tão grande como o que aconteceu em Michigan se repetir, mas no caso dos democratas o que importa é a margem da vitória, e não a vitória em si. Sanders poderá ficar satisfeito com um resultado mais próximo do esperado, especialmente se conseguir compensar uma derrota na Flórida com vitórias no Meio-Oeste.