Depois de uma Convenção Republicana bastante agitada, Hillary Clinton escolheu seu candidato à vice-presidência. É o senador da Virgínia, Tim Kaine. Tudo sobre Kaine tem a ver com a forma como Clinton tem se posicionado nesta campanha e suas maiores virtudes podem também ser seus maiores defeitos.
Um político completo
Tim Kaine passou por todos os níveis de governo: municipal, estadual, federal. Foi vereador e depois prefeito de Richmond, capital da Virgínia. Depois foi vice-governador do estado, ganhando uma disputada eleição em 2005 para se tornar o 70º governador da Virgínia. Durante a campanha e seu mandato de quatro anos, procurou políticas centristas para apaziguar os lados republicano e democrata, sempre em forte disputa no estado.
Foi durante seu governo que a Virgínia se tornou um “estado azul” na eleição presidencial de 2008, encerrando um ciclo de quatro décadas em que apenas republicanos venciam eleições presidenciais em Virgínia. Após sair do governo (em seu estado não existe reeleição para governadores), Kaine dedicou-se a dar aulas sobre administração pública, até ser convocado para disputar e vencer uma vaga ao Senado em 2012. Desde então, esteve nos comitês de orçamento e de relações exteriores, dois dos mais prestigiados no Senado.
Kaine é católico e fala espanhol, duas características consideradas importantes para sua escolha como vice de Hillary Clinton, por se comunicar bem com dois segmentos importantes e crescentes na sociedade americana: católicos e hispânicos. Sua experiência e sua relativa juventude (pode ser candidato à presidência no futuro sem estar muito velho) também falam a seu favor, mas não há nada além da competência política para entusiasmar a base democrata.
Apelo centrista num ano de extremos
Se por um lado a experiência e a moderação de Kaine são reconfortantes para eleitores interessados em diminuir os riscos na sua escolha, por outro o senador da Virgínia é talvez centrista demais para os gostos da ala mais à esquerda (e também mais animada com Bernie Sanders) no partido. Quem espera fortes sinais em favor de uma plataforma economicamente mais transformadora e procurando mitigar a desigualdade crescente nos Estados Unidos ficou desapontado.
Qual é a chance de a escolha por Kaine ter um efeito positivo nos milhões (especialmente jovens) que votaram em Sanders e rejeitam Clinton por toda sua história na política americana? Muitos esperavam por um lance mais ousado, como a escolha de Elizabeth Warren (senadora por Massachusetts), para deixar a parcela favorável a Sanders mais conformada com o voto em Clinton.
A verdade é que em um ano de extremos o apelo centrista está reduzido. Donald Trump precisava de um vice que fosse uma garantia contra seu estilo caótico e que servisse para unificar os republicanos. Embora a união não esteja perfeita (como visto na insurgência de Ted Cruz), Mike Pence serviu bem ao papel e deixou parte dos republicanos mais aliviada. Afinal, ele é bastante conservador e confiável para os republicanos, o que ajuda no processo. Kaine não é dos mais à esquerda, muito pelo contrário, e o partido não estará tão unido assim a favor de seu nome.
A Convenção Nacional Democrata
Tim Kaine será confirmado candidato, assim como Hillary Clinton, na Convenção Nacional Democrata, que começa hoje e vai até quinta-feira, na Filadélfia. Em meio a diversas crises (a maior delas a divulgação de milhares de emails do Comitê Nacional Democrata e seus membros pelo site WikiLeaks), a pergunta é se os democratas conseguirão apresentar um bom discurso capaz de se contrapor a Donald Trump e conter sua ascensão. Além disso, apresentar a unidade partidária que é preciso para empolgar eleitores, especialmente os apoiadores de Bernie Sanders.
Falarei sobre a Convenção Democrata no Twitter, como feito com a Convenção Republicana. Hoje vai ser um dia interessante por contar com os discursos de Bernie Sanders e de Michelle Obama, e a expectativa pela forma como Sanders fará seu apoio a Hillary Clinton.