Começa hoje a 41ª Convenção Nacional Republicana. Nos próximos quatro dias, o foco estará sobre o Grand Old Party e seu maior evento, que confirmará a nomeação de Donald Trump para a candidatura à presidência dos Estados Unidos da América, concorrendo junto ao governador de Indiana, Mike Pence. Trata-se de um tipo de evento comum entre partidos políticos do mundo inteiro, mas em nenhum país convenções são tão espetaculares como nos EUA.
O que é uma Convenção Nacional?
Durante todo o processo das primárias, o que estava sendo decidido na prática era a alocação de delegados para a convenção. Como explicamos em post anterior, o sistema de escolha dos candidatos à presidência é indireto. Cada estado e território tem direito a um número fixo de delegados, decidido pelas regras partidárias, e realiza as primárias (ou caucus) para determinar quantos delegados votarão em cada candidato na Convenção Nacional.
Desde os anos 50 o processo para eleição do candidato partidário tem ficado mais democrático. Antes disso, quase todos os estados não faziam eleições amplas para decidir os delegados que iriam para a Convenção. Hoje em dia é o contrário, e os delegados são definidos por voto popular na maioria dos casos, embora as regras para alocação entre os candidatos variem imensamente.
Normalmente um candidato obtém maioria de delegados antes da Convenção, garantindo sua nomeação com antecedência. Apesar da grande resistência a Trump, em 2016 não foi diferente. O bilionário nova-iorquino chega à Convenção com 300 delegados a mais do que o necessário para ser confirmado como candidato republicano à presidência, e é praticamente certo que também sua escolha para a vice-presidência seja confirmada. O grupo contrário a Trump tentou manobrar por uma mudança de regras, mas foi derrotado. No entanto, ainda há algum risco de animosidade nos primeiros dias da Convenção.
No mais, é um evento partidário voltado a determinar o rumo do partido na iminência de uma eleição nacional. Portanto, vários discursos de políticos e celebridades ligados ao partido serão feitos, bem como discussões sobre estratégia e política local e nacional. O evento é acompanhado com interesse pela imprensa pois é uma espécie de “reunião das tropas” procurando estabelecer o perfil do partido para os meses de campanha intensa que virão a seguir.
Como será neste ano?
Marcada com dois anos de antecedência, a Convenção Nacional Republicana será feita em Cleveland, Ohio. O local é a Quicken Loans Arena, estádio utilizado pelo Cleveland Cavaliers, time campeão da NBA deste ano. O estado é governado por um dos candidatos derrotados nas primárias republicanas, John Kasich, que até hoje não endossou a candidatura de Trump.
O bilionário prometeu uma Convenção animada. Disse que em 2012 o evento foi “o mais entediante que já viu na vida” e algumas escolhas não convencionais são esperadas. A lista de participantes saiu ontem e apresenta um programa baseado nas principais promessas de Trump como candidato:
Segunda-feira: Make America Safe Again. No primeiro dia, a intenção parece ser criticar os últimos anos das políticas de segurança, com provável foco nos problemas da gestão de Hillary Clinton como secretária de Estado (principalmente o problema de Benghazi). Entre os que irão discursar estão a esposa do candidato, Melania Trump, a senadora Joni Ernst de Iowa e o ex-governador do Texas Rick Perry.
Terça-feira: Make America Work Again. No segundo dia o foco estará em um dos grandes grupos descontentes que abraçou a candidatura de Trump: trabalhadores que viram sua renda e suas oportunidades diminuírem nos últimos anos. Entre os participantes principais estão Donald Trump Jr., o candidato derrotado nas primárias Dr. Ben Carson, o presidente da Câmara de Deputados Paul Ryan (que demorou a apoiar Trump) e o governador de Nova Jersey Chris Christie (o primeiro grande nome do partido a apoiar o candidato).
Quarta-feira: Make America First Again. O terceiro dia da Convenção vai se concentrar em defender o excepcionalismo americano, a ideia de que os Estados Unidos precisam ser líderes no mundo, oferecendo o melhor exemplo e defendendo seus ideais. Nesse dia, os maiores adversários de Trump nas primárias deverão discursar: Ted Cruz e Marco Rubio. Além deles, o segundo filho de Trump, Eric, o ex-presidente da Câmara Newt Gingrich e o candidato a vice de Trump, Mike Pence.
Quinta-feira: Make America One Again. Finalizando a Convenção, o quarto dia vai tentar oferecer uma proposta de união dos americanos em torno de seus ideais comuns, para fortalecer o país e evitar divisão e polarização danosas. As maiores atrações serão o bilionário empreendedor Peter Thiel, o presidente do Partido Republicano Reince Priebus, Ivanka Trump, filha do candidato. O discurso final, o mais aguardado com toda certeza, caberá ao improvável candidato republicano à presidência dos Estados Unidos. E ninguém sabe como será um discurso de Donald Trump antes de acontecer.
Onde acompanhar a Convenção Republicana?
Normalmente o canal a cabo C-SPAN acompanha tudo sobre a política americana e não será diferente na Convenção Nacional Republicana. Outra opção para assistir o evento é o Twitter, que fechou um acordo com a rede de TV CBS para transmiti-lo na íntegra.
Mais do que isso: qualquer canal de notícias sobre a política americana acompanhará a Convenção minuto a minuto. Uma boa opção é o site Politico, especializado em política, mas qualquer grande jornal americano deverá ter informações em tempo real. Em português, o mais indicado é acompanhar os três grandes jornais brasileiros (Folha de S.Paulo, O Estado de S. Paulo e O Globo) e suas editorias internacionais.
Não poderei acompanhar a Convenção inteira, mas farei comentários frequentes no Twitter, inclusive sobre a história das convenções republicanas. Por enquanto, recomendamos o documentário do FiveThirtyEight sobre a Convenção de 1976, que precisou decidir entre o presidente Gerald Ford e seu desafiante Ronald Reagan. Foi a última vez em que o resultado da Convenção Republicana não era conhecido antes de sua realização.