Diante da rejeição alta de Hillary Clinton e Donald Trump, muitos americanos têm cogitado dar seu apoio a um candidato alternativo. Neste ano, o favorito para conquistar os votos dos descontentes com as escolhas dos dois maiores partidos é o libertário Gary Johnson, que foi governador do estado do Novo México como republicano entre 1995 e 2003. Pontuando em média 8% nas pesquisas, Johnson espera subir nas pesquisas para forçar sua participação nos debates presidenciais (são necessários 15% nas maiores pesquisas para isso).
O desafio de uma terceira via
De tempos em tempos surge um nome que interessa uma parcela menor, mas importante do eleitorado americano. Nos anos 90, foi Ross Perot, que conseguiu 19% dos votos em 1992, facilitando a vitória de Bill Clinton. Em 2000, a candidatura de Ralph Nader pelo Partido Verde acabou drenando votos fundamentais do candidato democrata, Al Gore, e selou a vitória de George W. Bush. Nas últimas três eleições, no entanto, nenhum candidato fora dos partidos democrata e republicano alcançou esse grau de relevância.
As confusas regras eleitorais nos Estados Unidos dificultam as chances para o surgimento de uma terceira via. Poucos estados têm segundo turno, o que faz com que a eleição tenda a ser disputada por duas coalizões majoritárias. No Brasil por exemplo é factível que uma candidatura alternativa como a de Marina Silva desbanque PT ou PSDB para ir ao segundo turno. Se não houvesse segundo turno, o “voto útil” seria ainda maior.
Além disso, diversos estados possuem leis que tornam difícil a participação de outros partidos, exigindo números altos de assinaturas e registros para permitir ao partido colocar seu candidato na cédula no estado. Isso faz com que políticos interessados em seguir carreiras sólidas e obter cargos prefiram se filiar aos dois maiores partidos, mesmo que estes não os representem ideologicamente de modo satisfatório.
O crescimento dos Libertários
O Partido Libertário tem se consolidado como o terceiro partido dos Estados Unidos, apesar de não ter conseguido até hoje eleger um deputado sequer. Nas eleições de 2012, conseguiu estar na cédula em 48 dos 50 estados (isso em si já foi considerado uma vitória) e obteve 1,27 milhão de votos com Gary Johnson. Neste ano, a expectativa é superar bastante essa marca.
Para isso, o Partido Libertário fez algo curioso para um partido tão pequeno e idealista: escolheu seus candidatos de modo altamente pragmático. Gary Johnson é um moderado dentro da plataforma do partido, e escolheu apoiar como candidato à vice-presidência outro nome ainda mais moderado e recém-convertido ao partido: o também ex-republicano e ex-governador do estado de Massachusetts, William Weld. Isso fará do Partido Libertário o único a apresentar uma dupla de candidatos com experiência em cargo eletivo no Executivo, o que é surpreendente.
Qual a plataforma dos Libertários?
Republicanos costumam defender o livre mercado e apoiar certas liberdades, como o direito de ter armas, mas preferem políticas sociais mais restritivas e baseadas nas tradições conservadoras. Democratas defendem liberdades sociais amplas, mas preferem intervenção do Estado na economia e em outros setores, além de restringir armas, para ficar em alguns exemplos.
Os libertários defendem que é possível defender todas as liberdades. Assim, são a favor do direito de ter armas, de liberdades contratuais e do fim das intervenções estatais na economia, na saúde, na educação… Mais ainda, são favoráveis à descriminalização das drogas e à legalização do casamento gay, sem contar a redução brutal dos impostos. Uma frase comum entre eles é “Smaller government out of your pocket book and out of your bedrooms”: “Governo menor fora do seu bolso e fora do seu quarto”.
Isso faz com que os libertários ganhem simpatia de ambos os lados da disputa política americana, mas também o contrário. Republicanos costumam achar que libertários são irresponsáveis que não percebem o valor das tradições americanas e tendem a aceitar qualquer coisa, não importa se moralmente erradas. Democratas, por sua vez, atacam libertários por sua postura radical contra as intervenções estatais, que serviriam para combater desigualdades sociais. A resposta dos libertários é a mesma para ambos: maior liberdade é um bem em si, um princípio que levado ao extremo ajuda a minorar os males que os outros dois partidos identificam na sociedade americana.
Há chance real para os libertários?
No começo da campanha poucos acreditavam que Donald Trump poderia se tornar o nomeado republicano. Poucos apostaram que Bernie Sanders daria tanto trabalho a Hillary Clinton. Temos dois candidatos altamente impopulares. Isso tudo abre as portas para os libertários?
É muito difícil, talvez impossível. O partido é muito pequeno e não conseguirá ter a presença na mídia que os dois maiores partidos obtêm, mesmo apresentando dois candidatos experientes e bem avaliados. Além disso, o voto útil para evitar Trump ou Clinton deverá ser a norma entre os eleitores descontentes. Afinal, o sistema do Colégio Eleitoral torna muito arriscado dar seu voto a uma terceira via: no limite, se os libertários conseguissem ganhar em alguns estados, as chances de ninguém obter maioria no Colégio Eleitoral cresceriam, deixando a decisão para a Câmara de Deputados.
Mais importante que isso, os libertários ainda são um grupo pequeno e bastante sui generis. A convenção libertária teve inúmeros casos que demonstram como o partido não consegue representar bem senão uma franja dos eleitores americanos, além de ser palco de muitos militantes algo exóticos, como o gif abaixo evidencia.

Com tudo isso, é de se esperar crescimento do Partido Libertário, mas não o suficiente para se tornar uma alternativa real. No entanto, uma votação alta em alguns estados pode definir a eleição em favor de um dos dois maiores candidatos, embora ainda não esteja claro se Trump ou Clinton seriam os maiores beneficiados. Provavelmente dependeria do estado: uma votação forte dos libertários no Colorado pode beneficiar Trump, por exemplo, mas na Flórida poderia ajudar Clinton.