Amanhã será um dia decisivo para as eleições americanas. Depois da Super Tuesday em 1º de março, nenhum outro dia oferecerá maior número de delegados em disputa nas primárias republicanas, e também pode ser o dia em que saberemos se Bernie Sanders terá ainda alguma chance ou se Hillary Clinton estará garantida como nomeada (embora provavelmente a campanha continue até pelo menos abril).
Como as primárias democratas são regidas pelas mesmas regras de alocação de delegados em todos os estados e territórios, falaremos em maior detalhe sobre a disputa republicana, que está muito mais difícil de prever devido à até agora inusitada liderança de Donald Trump. Cada um dos cinco estados que votam amanhã tem regras específicas e prognósticos diversos, o que aumenta a imprevisibilidade.
O Idos de Março
O dia 15 de março era chamado no calendário romano de “Idos de Março”. Todos os meses tinham um dia que marcava exatamente o centro do mês, e esse dia se chamava Idos – em alguns meses era no dia 13, em outros no dia 15. Foi no Idos de Março que Júlio César, imperador romano, foi assassinado por conspiradores no Senado romano. William Shakespeare imortalizou a expressão “Beware the Ides of March” (“cuidado com o Idos de Março”) em sua peça sobre Júlio César.
A expressão passou a ser utilizada em vários contextos, inclusive na política. Como março é um mês importante para as primárias americanas, o dia 15 costuma ter implicações para a definição das candidaturas. O filme de George Clooney, “Ides of March”, trata justamente desse momento em uma hipotética campanha dos candidatos democratas à presidência, em Ohio.
Neste ano não é diferente: nos cinco estados que fazem suas primárias amanhã (Missouri, Illinois, Ohio, Carolina do Norte e Flórida), 358 delegados estão em disputa no lado republicano e 691 entre os democratas. Os cinco estados têm em comum serem importantíssimos para as eleições gerais: Ohio e Flórida são “swing states” clássicos; a Carolina do Norte votou em Obama em 2008 e em Romney em 2012; Missouri e Illinois são mais seguros para republicanos e democratas, respectivamente, mas podem mudar de lado dependendo das circunstâncias.
As regras no Missouri
As aparências às vezes enganam. O Missouri parece ser um estado solidamente republicano. Desde 1968, somente Carter em 1976 (após o escândalo Watergate) e Bill Clinton em 1992 e 1996 (contando com a ajuda das candidaturas de Ross Perot, que atrapalharam os republicanos em vários estados) venceram no Missouri pelo Partido Democrata. Mas já houve eleições mais apertadas: McCain venceu Obama por apenas 20 mil votos em 2008, em um universo de mais de 2 milhões de eleitores.
O Missouri possui oito distritos congressuais. Em muitos estados as regras republicanas atribuem três delegados para o vencedor de cada distrito, e distribui os delegados restantes de acordo com o voto no estado todo. O Missouri fez quase a mesma coisa, mas atribuiu cinco delegados em vez de três para cada distrito, restando 12 para o voto estadual. E em todos os casos o vencedor leva todos os delegados.
Isso quer dizer que mesmo considerando as pesquisas perfeitamente acuradas, não há condições de saber quantos delegados os candidatos podem vencer. É provável que o vencedor no estado ganhe pelo menos 32 delegados (12 do estado, mais 20 pela vitória em quatro distritos), mas é possível que ganhe todos os 52. Não é um número insignificante, considerando que a distância entre Ted Cruz e Donald Trump hoje é inferior a 100 delegados.
Chances republicanas e democratas
A única pesquisa disponível feita em março para a corrida republicana foi feita durante uma semana e tem apenas 208 respondentes. Muito pouco para ter alguma ideia de qualquer coisa. Nela, Trump aparece com 36% e Cruz com 29%, o que sugere uma disputa acirrada. Mas há motivos para acreditar que Cruz é o favorito, especialmente por seu ótimo desempenho em estados vizinhos: Iowa e Kansas. Marco Rubio e John Kasich nem fizeram campanha no estado, se concentrando em seus estados (Flórida e Ohio, respectivamente).
Do lado democrata, pode-se esperar que Sanders vença Clinton (pesquisas recentes dão empate técnico), especialmente após sua inesperada vitória em Michigan, mas não por grande margem de votos. Com 71 delegados em disputa, Sanders precisa de mais do que uma vitória simples, considerando que está com 200 delegados a menos que Hillary.