Michigan: aposta de Kasich e Sanders

Hoje teremos votações em mais quatro estados nas primárias republicanas. Dois deles também farão primárias democratas. Havaí e Idaho decidirão seus delegados republicanos, enquanto Mississippi e Michigan o farão para ambos os partidos. Destes, o maior estado é Michigan, com 59 delegados republicanos e 130 democratas em disputa. Dois candidatos com chances mínimas de obter a nomeação têm muito a ganhar no estado: John Kasich do lado republicano e Bernie Sanders do lado democrata. Falaremos sobre Michigan em maior detalhe e sobre as outras disputas brevemente no final do post.

A tentativa do governador vizinho

O estado do Michigan é conhecido pela indústria automobilística, especialmente na cidade de Detroit. Esta passa por problemas econômicos sérios desde a crise de 2008, tendo uma taxa de desemprego muito acima da média americana e decretado falência em 2013. Outra cidade recentemente em foco é Flint, que sofreu sérios transtornos com a contaminação por chumbo de seu sistema de abastecimento de água.

021_BN-MP578_KASICH_P_20160215175131John Kasich é o atual governador de Ohio, que faz divisa com Michigan a noroeste. Seu perfil de republicano moderado tem maior aceitação no estado do que os conservadores Ted Cruz e Marco Rubio. Além disso, a proximidade dos dois estados permite que muitos eleitores de Michigan conheçam e aprovem o trabalho de Kasich, especialmente quando o governador republicano Rick Snyder passa por fortes críticas devido à crise em Flint e outros problemas.

Há uma semana, a expectativa de Kasich seria conseguir alguns delegados no estado e talvez ficar em segundo lugar numa disputa com Rubio, se preparando para o dia 15 decisivo das primárias em Ohio, seu estado. Mas o mau desempenho do senador da Flórida na Super Tuesday e no sábado, conjugado ao que parece ser uma interrupção no crescimento da candidatura de Donald Trump, colocou Michigan de volta ao jogo. Kasich procura receber os votos anti-Trump e ganhar mais espaço entre os apoiadores de Rubio e Cruz para, quem sabe, vencer o estado.

Apenas uma pesquisa mostra Kasich em situação de vitória, feita por um instituto que tem estimado os votos do governador de Ohio muito acima da média. Ainda assim, devido ao aparente colapso de Rubio, muito mais eleitores podem estar interessados em considerar Kasich como alternativa a Trump e Cruz. Para o público republicano mais moderado do Meio-Oeste, uma presidência Kasich não seria mau negócio.

Ainda assim, Trump é o favorito no estado por boa margem. Os 59 delegados são distribuídos de modo proporcional entre aqueles que atingirem 15% dos votos. Na hipótese altamente improvável de algum candidato obter maioria absoluta (50%+1), este ficará com todos os delegados. Mesmo que não vença Trump, um bom desempenho de Kasich pode ajudar a reduzir significativamente o número de delegados obtido pelo bilionário em Michigan.

Uma etapa decisiva para Sanders

O pior para Bernie Sanders já passou. A votação no Mississippi encerra a temporada das primárias democratas nos estados do Sul Profundo e deixa apenas a Flórida como estado com percentual muito alto de negros (embora o percentual de hispânicos também não lhe seja favorável). Começa a temporada no Meio-Oeste bastante povoado e, pelas regras democratas, com prêmios maiores em termos de delegados. Entretanto, começa em um estado com população negra relativamente grande: o Michigan.

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No debate de domingo, Sanders foi mais enfático que de costume, procurando marcar ainda mais suas diferenças para Hillary Clinton. Mas seu desafio é grande: Michigan é um estado muito favorável ao bail-out que salvou a indústria automobilística, e Sanders tem uma posição complicada a respeito: acha que o dinheiro para recuperar as montadoras deveria ter vindo dos bilionários e não dos impostos de americanos de classe média. Clinton está pintando isso como uma posição desfavorável ao bail-out em um eleitorado que já lhe é mais propício.

Assim como Kasich, o senador de Vermont não precisa vencer sua rival no estado. Precisa dar sinais de que sua performance no Meio-Oeste será mais exuberante do que os resultados acumulados até aqui em estados mais problemáticos para sua coalizão. Para isso, não pode deixar a diferença chegar a 10 ou mais pontos percentuais. Não será fácil, mas é um desempenho necessário se Sanders ainda tem esperança de vencer a nomeação. Caso contrário, Clinton já terá atingido a maioria ou ficado bem perto disso (contando seus superdelegados) quando chegarem ao final de abril.

Os outros estados

Mississippi: entre os democratas, não há muita conversa: o Mississippi é um estado sulista com enorme população negra. Hillary Clinton ganhará com facilidade a maior parte (provavelmente dois terços) dos 36 delegados em disputa. No caso republicano as coisas não estão muito claras após o crescimento enorme de Ted Cruz na Louisiana no dia da eleição e o apoio do governador do Mississippi, Phil Bryant, ao candidato texano.

Donald Trump continua favorito a vencer, mas não é garantido que seja com margem confortável. Pelo contrário: pela regra de alocação de delegados baseada em distritos congressuais e voto geral no estado, o vencedor pode até acabar com o mesmo número de delegados (ou até menos) que o segundo colocado se a margem de ambos for muito próxima no geral. Rubio e Kasich tentarão atingir os 15% para poderem receber delegados, mas com base nos resultados da Louisiana e bastante improvável que isso aconteça.

Idaho: o grande estado no noroeste do continente americano, pouco povoado e conhecido pelas grandes plantações de batata, oferece 32 delegados em suas primárias. As regras são confusas: é preciso ter 20% dos votos para obter delegados, mas se algum candidato obtiver mais de 50% dos delegados ganhará todos os delegados. Ou seja, se o resultado for Trump 36, Cruz 32, Rubio 18 e Kasich 14, por exemplo, todos os delegados iriam para Trump (não é impossível que essas regras tenham sido causadas por um erro ao escreverem o regulamento).

Não há pesquisas e Rubio parece ser o único candidato preocupado em obter votos no estado, para tentar vencer pelo menos um dos estados que votam amanhã. Na dúvida, é mais provável que Trump ou Cruz saiam vencedores e a votação de Rubio impeça alguém de obter todos os delegados.

Havaí: não há pesquisas para o caucus no Havaí, que oferece apenas 19 delegados. Se a tendência dos caucus permanecer, Ted Cruz tem mais chances de vencer do que Donald Trump. E é só isso que dá para prever. A distribuição é proporcional, o que faz o estado não ter muita importância para a conta final de delegados.

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