Amanhã ocorrerão as primárias de New Hampshire. Nada de caucus, nada de regras esquisitas: a eleição será por cédulas, totalmente secreta e a contagem será direta, sem os delegados estaduais do caucus democrata. A simplicidade pode jogar a favor das candidaturas de Donald Trump e Bernie Sanders. Mas o que esperar, no geral, de New Hampshire?
Os três governadores republicanos
Restam três governadores de estados na campanha republicana (no caso de Jeb Bush, ex-governador). Os três, vistos como representantes do establishment do partido e mais moderados que os vencedores de Iowa, dividem votos entre os republicanos de New Hampshire, que são muito menos conservadores que suas contrapartes em Iowa. E, para cada um deles, as primárias no Granite State serão decisivas.
Quem tem menos chance é o governador de Nova Jersey, Chris Christie. Apesar de ser apontado desde 2013 (e até antes) como um dos favoritos à nomeação republicana, Christie teve seu apoio paulatinamente erodido. Em 2012, elogiou Obama no tratamento da crise causada pelo furacão Sandy. Em 2013, explodiu o caso conhecido como “bridgegate”, em que auxiliares de Christie fecharam uma ponte entre Nova Jersey e Nova York para prejudicar um desafeto político do governador. A divisão do campo republicano terminou o serviço, e Christie ficou relegado à rabeira das pesquisas, com 5% ou menos em quase todas.
Mas Christie ainda tem esperanças. Jogou todos seus recursos em New Hampshire, conseguiu o apoio do governador de Massachusetts, estado vizinho, e é visto como um competidor irascível. Não à toa. Após os resultados no caucus de Iowa, o senador Marco Rubio emergiu como favorito do establishment. Christie então o atacou de forma muito bem sucedida, apontando como Rubio repete sempre o mesmo discurso de forma ensaiada, num momento decisivo do debate de sábado passado:
O desempenho de Christie nesse debate foi considerado o melhor de todos os sete presentes. Mas tudo isso pode não significar muito na reta final. Talvez Christie tenha muito mais colocado um ponto de interrogação sobre Rubio do que um ponto de exclamação sobre si. Se não obtiver um desempenho muito acima do esperado em New Hampshire, o governador de Nova Jersey será obrigado a abandonar a campanha.
Os outros dois governadores na disputa tiveram um desempenho um pouco mais modesto, mas melhor que o de seus adversários. Por exemplo, Jeb Bush (cuja candidatura parecia inevitável e agora se arrasta) conseguiu levar a melhor sobre Donald Trump pela primeira vez, ao acusá-lo de tentar desapropriar a casa de uma velhinha anos atrás:
O assunto pode ajudar Bush em New Hampshire, estado conhecido pelo seu amor à liberdade e cujo eleitorado republicano tem perfil mais “libertário” e, portanto, avesso ao uso de ferramentas governamentais para desapropriar pessoas. Além disso, o ex-governador da Flórida finalmente conseguiu ser levado a sério pela imprensa desde a entrada de Trump na campanha. É bastante possível que Bush alcance 15% ou mais dos votos. Mas se ficar atrás de Rubio ou de outro governador, a pressão para sua desistência crescerá demais.
Por fim, o governador de Ohio John Kasich, que tem concorrido com uma plataforma muito mais moderada que a de seus oponentes (o que lhe rendeu o apoio do New York Times, jornal que sempre apoia democratas contra republicanos), teve participação mais discreta, procurando apelar ao eleitorado independente de New Hampshire, que pode votar em qualquer uma das primárias (democratas ou republicanas, conforme a escolha do eleitor). Kasich é o grande rival de Rubio pelo segundo lugar nas pesquisas, e o desastre sofrido pelo senador pode decidir a favor de Kasich.
Os outros republicanos
Marco Rubio era quem mais tinha a perder no debate e em New Hampshire, e é possível que tenha perdido muito. Pode terminar em segundo lugar ainda (embora cada vez mais corra risco de ser ultrapassado por Kasich ou Bush), mas dificilmente vencerá o estado (como chegou a ser aventado após seu desempenho em Iowa) contra Donald Trump. Este teve desempenho apenas regular, e a imprensa parece estar um pouco menos afoita por notícias envolvendo o bilionário após sua derrota para Ted Cruz.
Enquanto isso, o senador do Texas, que venceu Iowa com o apoio do eleitorado evangélico, cumpre tabela em New Hampshire. Cruz está de olho na Carolina do Sul, daqui a duas semanas. Ben Carson ficou também muito apagado, e sua campanha continua apenas por certa teimosia pessoal do candidato. Donald Trump tem favoritismo claro, mas ainda não sabemos se seu eleitorado decepcionará novamente e a vitória será magra ou se a disputa entre os vários outros candidatos fará com que o bilionário saia de New Hampshire com uma vantagem de dois dígitos, talvez até maior que quinze ou vinte pontos percentuais.
O campo democrata em New Hampshire
Os eleitores republicanos ainda têm nove opções (os sete do debate, mais Carly Fiorina e Jim Gilmore, que não foram convidados). Os democratas, apenas duas, a não ser que somemos candidaturas como as do “Verme Supremo“. Bernie Sanders é favoritíssimo contra Hillary Clinton e uma vitória dele é mais do que esperada. Se algo diverso ocorrer, Sanders será oficialmente carta fora do baralho e Hillary poderá respirar sossegada.
Mas o mais provável é a especulação se dar em torno do tamanho da vitória de Sanders. Se a eleição for mais apertada do que as pesquisas apontam, será uma decepção para o senador de Vermont, estado vizinho e muito similar a New Hampshire. Se for mais larga do que o esperado (acima de quinze pontos percentuais de diferença), pode ocasionar uma espiral de notícias desfavoráveis a Hillary Clinton e gerar algumas dúvidas a respeito de sua elegibilidade. O palpite mais provável, no entanto, é que Sanders perderá força após New Hampshire e Hillary terá um caminho tranquilo para a nomeação.